É lançado esta sexta-feira o novo álbum de Minta & The Brook Trout. Slow não é só o “difícil” terceiro disco da banda, marca também a entrada de dois novos membros no grupo – Bruno Pernadas e Margarida Campelo.
O concerto oficial de lançamento do disco é no Centro Cultural de Belém e antes de subir ao palco, Francisca Cortesão sentou-se para dois dedos de conversa.
Comecemos pela escolha do single, “I Can’t Handle the Summer”, é o tema que melhor apresenta o disco?
Não sei se é a música mais representativa de todo o disco, é um bocado singular ali no meio. Mas elas acabam por ser todas, acho que o disco é bastante variado. É um bilhete de apresentação mas não sei se é a música que representa melhor o disco, é uma música de que nós gostamos, uma música curta que nos pareceu que era uma boa maneira de as pessoas entrarem neste disco. E são 11 canções e acho que são todas bastante diferentes umas das outras, por isso qualquer uma serviria.
E em que é que esta se distingue das outras?
Esta é a mais curta do disco, e é a única em que não toca o Bruno Pernadas. Aquela guitarra eléctrica que se ouve sou eu que estou a tocar e isso faz alguma diferença, eu gosto de tocar guitarra eléctrica mas o Bruno Pernadas toca bastante melhor que eu e tem um som que, quem já o ouviu tocar noutras bandas, reconhecerá como dele, embora aqui ele se calhar esteja num registo mais discreto, mas faz diferença. Eu acho que é um disco que se ouve bem assim de uma ponta à outra, não é muito longo e nós tentamos fazer um alinhamento que fosse uma viagem boa e acho que conseguimos.
Precisamente sobre a mudança de formação – saiu o Manuel Dordio [guitarrista], entrou o Pernadas e a Margarida Campelo [teclas e voz]. Que contributo tiveram na criação das canções?
Eles entraram na banda ao mesmo tempo, que foi pouco antes de irmos gravar, mas os dois fizeram parte da criação dos arranjos. Quando eles entraram para a banda já as canções estavam estruturadas, e essa parte feita por mim e pela Mariana Ricardo, que produziu o disco comigo e que teve neste disco, mais do que nos anteriores, um papel de produção à moda antiga, também de intervir – não na escrita, porque as canções em teoria são minhas – mas na escrita no sentido de me obrigar a melhorar coisas que eu apresentei, dizer «mais para aqui ou mais para ali, experimenta isto». E quando eles os dois chegaram já as canções estavam definidas, em termos de onde é o verso onde é o refrão, mas os arranjos foram feitos por eles também, foram feitos por nós todos, por mim, pela Mariana, pelo Nuno Pessoa [baterista], que já tinha gravado também o disco anterior, e pela Margarida e pelo Bruno. Sendo que agora nos concertos de apresentação do disco não é o Nuno Pessoa que está a tocar connosco, é o Tomás Sousa dos You Can’t Win, Charlie Brown, o Nuno não vive em Portugal e não conseguiu vir fazer estes concertos, e o Tomás agora é o nosso baterista ao vivo.
Ainda sobre os novos membros, o que é que eles trouxeram de novo, que não existisse em Minta & The Brook Trout?
Várias coisas. Em termos muito práticos, nós até agora tínhamos tido poucos teclados em quase todos os discos e o instrumento da Margarida é o piano e ela acabou por usar, na gravação, em muitas das músicas, um piano que por acaso é meu mas a que eu não sei dar uso conveniente, que é um Rhodes, um teclado dos anos 70 que tem um som muito característico e que acabou por fazer parte dos arranjos de muitas das músicas, precisamente porque estava lá na sala de ensaios, a Margarida começou a tocar e a linguagem dela naquele piano encaixou-se, e acho que isso é uma das marcas do disco. Por outro lado ela também canta, e muitíssimo bem, e por isso também fez coros em muitas das músicas. E a guitarra do Pernadas substitui a guitarra do Manuel Dordio – que também é um guitarrista bastante inconfundível – são dois estilos compatíveis com as canções que nós fazemos, mas bastante diferentes. E a Margarida e o Bruno tocam juntos numa série de projectos, eu aliás sou fã deles por causa disso, entre outras coisas por causa dos Julie and the Carjackers, mas também no projecto a solo do Bruno Pernadas, em que eu também canto, ou o Real Combo Lisbonense. Portanto eles os dois estão muito habituados a tocar juntos e vêm numa espécie de bloco, chegam os dois de novo a uma banda, mas chegam os dois juntos, um bloco compacto, e acho que isso é diferente de chegarem duas pessoas cada uma do seu sítio. Guitarra eléctrica, piano eléctrico quase sempre e nalguns casos nem da para perceber bem que som é piano eléctrico que som é guitarra, de tal modo aquilo se conjuga. E isso é certamente uma coisa diferente neste disco em relação aos anteriores.
© Vera MarmeloO single diz que não te dás bem com o Verão. O resto do disco, é de Inverno?
Não sei, eu como ouvinte vou adaptando as músicas aos momentos em que as estou a ouvir. Essa é uma música claramente escrita no Inverno e foi declaradamente escrita num dia de chuva, não há que enganar. De resto, acho que é um disco para todos os dias do ano – se bem que sou eu a dizê-lo – mas acho que pode ser. Há, estranhamente, algumas referências a tempo, a clima ,que não era uma coisa tão comum. Mas não significa que seja um disco de uma altura ou doutra.
O disco chama-se Slow. A capa do disco tem uma montanha e um petroleiro, que anda devagar. Há aí algum conceito por trás?
Tem a ver com o disco ter sido lento de compor, cada uma das canções arranjada com o seu tempo, e algumas delas terem demorado bastante tempo entre a primeira ideia e a forma final, e isso, na minha forma de compor é novo, há alguns anos as coisas tendiam a aparecer quase feitas, e neste caso não foi assim, de todo, foi mais trabalhado. Portanto o Slow vem um bocado daí. E depois acabou por ser uma palavra que foi surgindo nas letras e, de repente, ainda não tínhamos acabado de gravar o disco e já tínhamos percebido que esse era o título. Em relação à capa, eu dei as músicas ainda inacabadas ao José Feitor, que foi quem fez a ilustração da capa e já tinha feito para outros discos nossos, e foi inteiramente dele a interpretação. Ele só me perguntou por que é que era Slow.
Este disco sai 4 anos depois de Olympia. Pelo meio, fizeste outros trabalhos, por exemplo, a viagem e disco com They’re Heading West, cantaste no disco do Pernadas. Em que é que essas experiências terão influenciado ou moldado este disco de Minta?
É sempre difícil saber exactamente em que é que tocar com outras pessoas, fazer outras coisas influencia. O que eu sinto sempre é que é um privilégio muito grande tocar com tanta gente que toca tão bem, cantar com tanta gente que canta tão bem e ter acesso a tantas maneiras diferentes de fazer música. Com os They’re Heading West isso é particularmente óbvio, porque todos os meses tocamos com convidados diferentes e todos os meses temos a possibilidade de entrar no universo musical de alguém diferente e alguém óptimo – não tenho pudor nenhum em dizer isso porque temos tido sempre uma lista incrível de convidados. Mas também tocar com o Bruno Pernadas tem sido uma experiência muito fixe, no meu caso estar na lateral do palco a cantar e tocar percussão com um grupo de músicos que é inacreditável. Não te sei explicar como é que cada uma dessas coisas influencia, acho que se calhar vou ficando um bocado mais exigente. Talvez por aí. Eu ouço muita música, e muita música de perto, além dos discos que ouço, já fui fazendo alguma música até agora, portanto há sempre esse termo de comparação e por isso é que às vezes as coisas começam a demorar a arrancar. Eu gosto do outro disco, o Olympia, portanto pensei «se vamos fazer uma coisa a seguir a isto, que seja melhor, ou que seja tão bom como», e a demora surge um bocado daí.
Esta sexta-feira há concerto, que é a estreia do novo disco e da nova formação ao vivo.
Nós vamos tocar o disco novo, que estamos com muita vontade de tocar. E vamos também tocar umas mais antigas e mesmo essas, com um som mais aproximado ao disco novo, precisamente porque a formação é a que gravou o disco. Mas acho que conseguimos encontrar um alinhamento equilibrado entre as várias coisas que fizemos até agora, sendo que vamos tocar mais Slow que outra coisa, porque é a apresentação dele. Mas já é um corpo de canções engraçado para escolher, já é bom quando dá para ter dúvidas, se calhar podemos tocar esta ou aquela, já são trinta e tal canções por onde escolher, é bom ter direito a ter essas dúvidas.
E com os novos músicos, as canções antigas vão com outras roupas?
Sim. Mesmo que fossem tocar rigorosamente as mesmas linhas, são pessoas diferentes e são pessoas, todas elas, muitíssimo talentosas e com uma linguagem muito própria cada uma das pessoas que faz parte desta banda é, acho eu, inconfundível a tocar o seu instrumento. Portanto, mesmo que estivessem a tocar exactamente aquilo que estava gravado em disco, não iam tocar da mesma forma, e ainda bem que não, é uma soma diferente. E é uma soma muito boa, estou muito contente e cheia de vontade de fazer este concerto com este grupo de pessoas.