Timbres novos, arranjos mais acentuados, rico em R&B e de mãos dadas com o funk, ao mesmo tempo que não tenciona ser o centro das atenções, Blood é intenso na sua simplicidade e apenas peca por não sofrer do efeito surpresa de Woman, o álbum de estreia.
É preciso estar no mood certo para se ouvir Rhye. No mood para entrar naquela percussão simplesmente plana, lenta e repetitiva, que apenas varia com as melodia dos órgãos, das cordas ou dos sopros, sempre, sempre ligeiras. Da voz castiça de Michael Molish apenas podemos esperar suavidade. De repente, Blood pode soar a aborrecido, mas no mood certo somos levados pelo som quente do baixo, pelo groove delicado de cada composição que transpira a sensualidade. Se estivermos para ali virados, somos levados pela (enorme) beleza de Blood. Crua.
Crua no sentido em que Blood é mais intenso. Na verdade, o disco apenas peca por não sofrer do efeito surpresa de Woman (2013), o album de estreia. Timbres novos, arranjos mais acentuados, rico em R&B e de mãos dadas com o funk minimalista, ao mesmo tempo que não tenciona ser o centro das atenções. Blood é intenso na sua simplicidade.
Porém começa exactamente onde o primeiro album nos deixou. “Waste” é o cartão de visita perfeito para todos os que vão ouvir Rhye pela primeira vez. A batida que não tem pressa, os acordes prolongados do órgão, o toque requintado das cordas e a voz intrigante de Milosh, bela mesmo quando confundida com a de Sade. “Taste” e “Count to Five” são os singles e também as faixas mais dançáveis, sentidas pelo baixo tão quente e subtil. Impossíveis de deixar de destacar estão “Phoenix”, a mais groovy delas todas, com direito a guitarra eléctrica que quase soa a Nile Rodgers, e “Please” no seu formato serenata ao piano, onde quase conseguimos ouvir Prince.
Tudo sem grandes malabarismos. Sim, é fácil achar simplesmente que Blood é monótono, que soa ao mesmo do início ao fim, que não há uma canção que se destaque. De facto, são pouco mais de quarenta minutos de canções que fazem sentido, que se complementam e casam entre si. Mas Blood é exactamente aquilo que pretende ser: honesto. Uma honestidade capaz de criar uma estética tão apurada quanto homogénea, que todos conseguimos reconhecer nos Rhye.