Há muitos anos, Sérgio Godinho perguntou. “O que tem o Barnabé, que é diferente dos outros?” Hoje, a pergunta pode ser refeita. Afinal, o que tem o Nástio que é diferente dos outros? Fomos ao Lux tentar perceber.
Depois da abertura das hostilidades ter ficado a cargo de um surpreendente A. F. Diaphra, Nástio não subiu ao palco. Antes, lançou um video de apresentação, uma declamação, ao melhor jeito dos artistas da spoken word, sobre a sua Angola e sobre a rejeição das prisões que, diz, todos herdamos dos pais. Depois, apareceu para cantar e brincar à volta do seu “Se eu fosse Angolano”, disco de estreia. O público, que quase esgotou a sala, nunca o deixou sozinho.
Entre a electrónica, a música africana e o hip hop, sem vergonha em exibir a voz que considera como “poder”, Nástio Mosquito, angolano nascido no Huambo há 32 anos, não é um artista qualquer. Numa altura em que a originalidade na música é um bem mais raro, Nástio joga na sua própria divisão. Será de ser artista? Será de ter milhas acumuladas por todo o Mundo – expôs em Londres, Estados Unidos e em Portugal? Será de não ter meias palavras?
No disco, Nástio Mosquito canta a vida em Angola. Em entrevistas, anuncia que o estigma a que o país está sujeito impede o que de bom por lá se vai fazendo de ser conhecido. Em palco, Nástio avisa que, “Se fosse angolano”, diria que esses querem os portugueses de “rabo para o ar” e que por cá não estamos preparados para o que Angola quer do nosso depauperado burgo. Do palco, Nástio brincou com assuntos sérios. E com os outros também.
Sem nunca sacrificar o seu balanço, a violência que a música atinge sugere que ao Huambo chegaram cds de Tricky. A acidez das letras, a capacidade de rimar e cantar sobre assuntos sérios, sugerem que Nástio é fã de Gill Scott Heron, o tal que anunciou que a revolução não passaria na televisão. No Lux, Nástio apresentou-se como artista de registo próprio, de música de assinatura, de balanço africano, mas com as melhoras ferramentas do Mundo. Nástio deixou a plateia de ouvido e curiosidade aguçadas. Afinal, o que tem o Nástio que é diferente dos outros?
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(Fotos: olhos(«Ä»)zumbir)