Para palatos tão refinados como grosseiros, nada como contrariar a pacatez de um domingo soalheiro e ventoso com um digestivo americano de nome Red Fang. Podia ser um sludge carrascão como gostamos e nos habituámos, mas o gostinho a stoner e o sabor apurado prova-nos sempre que é de boas colheitas – e a nova está para breve.
Lisboa foi o destino final da mini-tour europeia dos norte-americanos Red Fang. Embalados pelo novo álbum que garantem já estar a metade, e cinco anos depois da passagem pelo excelentíssimo cartaz do Reverence Valada, voltaram a Portugal para um concerto em nome próprio, com o selo Amazing Events.
A abrir a noite domingueira estiveram os lisboetas Dollar LLama, com o seu novo disco Juggernaut, a despertar a garra dos que ali se começavam a multiplicar para ouvir o motivo desta súbita aparição, que veio pouco mais de um mês depois do lançamento do novo “Antidote” – single que o quarteto de Portland lançou através de um jogo em que era preciso fazer headbanging para ouvir a música. Sempre a rock’n’rollar.
Sem rodeios, começaram logo por atear o fogo com “Blood Like Cream”, e ficam a vê-lo queimar com “Malverde”, enquanto preparavam o terreno para uma hora e meia de galvanização a forte voltagem. Entre as malhas de sempre, apresentavam também as acabadinhas de fazer (uma delas terminada no dia anterior), e o público inquietava-se, ansioso por pés no ar e guitarras ao alto.
Na faixa central da audiência, passeavam-se os crowdsurfers e saciavam-se muitos outros no mosh, enquanto os restantes se magnetizavam e se aproximavam. “We may sound grumpy but we’re not. Let’s party”. Dito e feito. “Wires”, “Cut it Short” e, já na despedida, “Prehistoric Dog” não estiveram sós, mas chegaram para despertar os lados mais catárticos e animalescos. Chamem-lhe o que quiserem, mas ao vivo chamamos as coisas pelos nomes, e os Red Fang são selvagens e polidos, e tão crus como electrizantes.
Fotografia: Francisco Fidalgo