Na ficha deste álbum diz-se que Justin Vernon fez isto: cantou. E isto: tocou guitarra. E mais isto: agarrou-se à bateria, pratos, órgão, piano, banjo e baixo. E que para não restem dúvidas, também se diz que Vernon compôs todas as canções e foi coautor de outras. Os Bon Iver, claro está, são Justin Vernon e tudo o que ele quiser fazer desta banda – e o que ele fez neste álbum homónimo foi extraordinário. Porque deu um salto em frente não comprometendo os passos que já dera no For Emma, Forever Ago. Acrescentou-lhe sonoridades, sobrepôs-lhe camadas, tornou-o mais plástico (“Hinnon, TX”, por exemplo), usou o falsete e o dubstep mas manteve o registo melancólico e bucólico que são a sua marca registada.
Este é dos álbuns que entram à primeira. Não sei se será por ser fácil ou orelhudo; ou então porque já estou formatado para estes sons. Confesso que engatilhou e encarrilou na primeira faixa e entrou em cruise control durante as restantes. Tem canções brilhantes: a “Holocene” (a mais conhecida) e a “Towers” (a melhor, para mim). Tem uma que me faz lembrar, no início, o ambiente da excelente “Nothing Compares to You” da Sinead/Prince (“Calgary”), não pelo que Justin diz mas pelo que nos faz sentir. Este tipo é um romântico de bom gosto, aparentemente desalinhado e desprendido mas intrinsecamente comprometido com aquilo que está a fazer – lá voltámos nós à lista de coisas que ele fez neste álbum que igualmente produziu e misturou. Depois, segundo li, Vernon tem um orgulho desmesurado pela “Beth/Rest” que cheira a anos 80’s por todo o lado. Ouçam-na com distância e vejam lá se não tresanda a Peter Cetera, Glory of Love e Karated Kid? A mim, soou-me e soou-me bem, e juro que não tinha a TV ligada no Hollywood. E não me ficava bem estar aqui a falar do “Bon Iver” sem referir que há uma canção chamada “Lisbon, OH” (não de Oliveira do Hospital). Que é fraquinha porque é uma não-canção.