A noite era aguardada com ansiedade: três anos depois do disco de estreia, Morgan Delt (finalmente) pôs os pés em Portugal. O local escolhido foi o Musicbox mas antes da invocação do submundo psicadélico chegar à rua cor de rosa, entravam em palco os Zarco.
O conjunto de cinco rapazes de Lisboa impressionou com o seu rock progressivo e jovial, instrumentos e dedos bem afinados para uma banda tão recente. Guitarras e teclados esvoaçantes, clarinete e flauta transversal, coros de vozes triunfantes como proas de naus rasgando oceanos. Do psicadelismo menos voraz ao rock mais pesado, os Zarco trouxeram-nos riffs bem construídos e risonhos, dignos de quem estudou bem a matéria, de Zappa a Genesis e Yes, apresentando-se como uma promessa a acompanhar – o primeiro EP, Zarcotráfico, está já editado. Depois da Eurásia de Marco Polo e Fernão Mendes Pinto seguimos para terras americanas, para o calor inebriante da Califórnia.
Morgan Delt e companhia passavam do soundcheck directamente para o concerto, com a sala a metade da lotação, irrompendo tímpanos adentro com a vibrante “Mr. Carbon Copy”. De seguida, “I Don’t Wanna See What’s Happening Outside” e “The System Of 1000 Lies” faziam-nos sentir livremente presos no interior de um talismã do tamanho do Universo, em constante expansão até chegarmos a “Another Person” e “Obstacle Eyes”, canções onde esparsos raios de sol iluminavam a vida que nos passava em revista diante dos olhos, a confrontação do nada interior.
O tempo esticava-se e afastava-se atrás de nós enquanto notas de melancolia e erotismo ressoavam sala fora até que os ecos de “Chakra Sharks” nos davam a chapada da realidade. Derretíamos em “The Age of the Birdman” e com “Beneath the Black and Purple” cavalgávamos mente fora a fugir de dragões que do nada apareciam no caminho ao som de “Sun Powers”. Fomos por aí fora com a peculiar “Mssr. Monster”, a lisérgica “Barbarian Kings”, terminando com “Lizard Brains” e a bela e soalheira “Some Sunsick Day”. O canto comunal desaguou em aplausos efervescentes que não cessaram até ao regresso dos quatro músicos ao palco para um encore de improváveis inéditos, durante o qual Morgan Delt ofereceu ao público um dos poucos solos da noite, até ao último raio do pôr-do-sol nos chegar aos ouvidos. Um senhor concerto que valeu bem a pena a espera.