Inglaterra é pródiga, como sabemos há muito, no nascimento e alimentação de curtos mas intensos fogachos de bandas apontadas como a “next big thing”. Aconteceu com certezas que se vieram a confirmar como os Blur ou os Suede, e aconteceu também com coisas menos substanciais e menos duráveis, como os Maccabees ou os Wombats, só para citar alguns.
A banda que trazemos agora à baila são os fresquíssimos Hooton Tennis Club. A imprensa inglesa anda algo distraída, ocupada a brincar à “americana” e ao hip-hop, não tendo ainda dados honras de mega-hype a estes quatro rapazes do norte de Inglaterra, mas apostamos que não faltará muito para isso. É que Highest Point In Cliff Town, disco de estreia, está mesmo a pedir um daqueles elogios exagerados que asseguram que temos aqui a banda que vai trazer de volta os dias de glória da britpop.
Mas vamos com calma, que as coisas não funcionam assim.
O que este disco nos traz, apenas, é um refrescante e saboroso regresso aos tempos áureos do pop/rock dos anos 90, mais concretamente pop de guitarras, para afastar confusões. É um álbum que só poderia vir de Inglaterra, tal o tom avassalador da primeira vaga britpop que nos traz permanentemente à memória.
Highest Point In Cliff Town, 12 músicas em 37 minutos, arranca com “Up In The Air”, e basta o início para percebermos em que território estamos. A guitarra “a la John Squire” dos saudosos Stone Roses, encharca todo o tema, com cascatas de guitarradas que se repetem ainda mais vibrantes em “I’m Not Going Roses Again”. A guitarra de James Madden, aliás, é a grande força motriz desta banda e destas primeiras composições. O rapaz cresceu, claramente, com uma rigorosa dieta feita de Squire, Marr, Bernard Butler e Television, e todo o disco é um tratado de bom gosto na utilização da seis cordas em formato eléctrico. O baixo de Callum McFadden está, felizmente, bem mais presente na mistura do que o que sucede com a esmagadora maioria dos discos actualmente. São estes os dois os grandes trunfos da banda; o vocalista Ryan Murhpy seduz com o seu sotaque britânico mas não parece ter, para já, uma voz carismática que se distinga particularmente de tantas outras, embora cumpra sempre bem o seu papel.
Se os Hooton Tennis Club não querem inventar nada em termos musicais (apenas serem muito excitantes e competentes naquilo que fazem), as letras já são aposta diferente. Músicas com nomes sugestivos como “Kathleen Sat On The Arm Of Her Favourite Chair” ou “Something Much Quicker Than Anyone But Jennifer Could Imagine”, a lembrar títulos de contos de F. Scott Fitzgerald, bem como letras misturando o quotidiano com referências a lembrar o mundo fantástico de Wes Anderson, temos aqui quatro putos que parecem querer trilhar o seu próprio caminho.
Mas, admitamos, aquilo que mais interessa neste disco é mesmo a sonoridade musical. Temos, portanto, uma caldeirada de influências que nos lembram (sustenham a respiração): Stone Roses acima de tudo, Charlatans do princípio, Smiths, Supergrass, Blur dos primeiros dois discos, The Go-Betweens mais electrificados, Kaiser Chiefs nos seus melhores momentos, Kasabian idem, pozinhos de Television e Pavement mais lavadinho.
O que é extraordinário, e nos faz ter alguma fé no que estes rapazolas podem vir a fazer no futuro, é que conseguem sobreviver a este caldeirão de referências externas mantendo alguma personalidade própria. E isso é muito, mas muito difícil.
Não sabemos se os Hooton Tennis Club serão realmente a “next big thing” ou se irão perder-se como tantas outras bandas promissoras. Isso é coisa para se ver nos próximos discos. Mas sabemos que Highest Point In Cliff Town é uma das melhores notícias que este ano trouxe a quem está com saudades de um bom pop de guitarras.
É um disco que tresanda a juventude, a irreverência e a alegria. Agarrem-no enquanto ainda está sol.