Foi em 2010 que se desfizeram dúvidas muito características desses indivíduos que vivem mesmo a música – “como é que seria se estes tipos se juntassem para fazer música? Vendia um rim para ouvir isso.” Eram Brian Burton e Mark Linkous, respectivamente Danger Mouse e Sparklehorse, que se juntavam a David Lynch e convidavam perto de uma dúzia de alguns dos nomes mais sonantes da música alternativa actual, num disco assombrado de seu nome Dark Night of the Soul – literalmente assombrado, de tal forma que as respectivas gravações coincidiam com os suicídios de Vic Chesnutt e, semanas mais tarde, do próprio Linkous.
Era aí que residia uma bela faixa denominada “Insane Lullaby”, a quem James Mercer emprestava a voz. Nome incontornável da música alternativa norte-americana do último par de décadas, enquanto figura central dos The Shins (e há quanto tempo esperamos que voltem à boa-forma), viria a ser uma das faces da parelha Broken Bells, juntamente com Danger Mouse, que ainda nesse ano lançavam um álbum homónimo. À data (francamente, ainda hoje), soavam a uma mistura descomprometida que compatibilizava os territórios sonoros de ambos os músicos e trazia à tona vislumbres esbatidos dessa primeira trilogia de discos que os The Shins muito bem ostentavam, antes de venderem a alma ao diabo.
Eram brincadeiras acústicas, mas eram muito bem executadas. O que é particularmente evidente agora, que damos por nós a vasculhar este novo “After the Disco” à procura de uma estranhamente primaveril “October” ou de outro momento que imaginamos surrupiado ao repertório dos Shins (e “The High Road” era tão bela a cumprir esse pedido). O que encontramos agora não é, nem tão-pouco mais ou menos, isso.
Não estamos perante um objecto inerte, mas à medida que avança não há grande palpitação cardíaca: a audição discorre de um sentimento um pouco apático, na verdade. Há rasgos de electrónica que agora lideram a composição (antes serviam para a aprimorar), que nunca nos convencem por completo. E a dupla bem se esforça por percorrer territórios novos – vejamos as vocalizações de Mercer a invocar os Bee Gees sobre um sintetizador que até sobre as aventuras de Scooby-Doo nos iria soar demasiado entusiasmado, em “Holding On for Life”.
Há outras pistas de querer validar o percurso enquanto um novo produto, mas o caminho nunca se revela muito coerente. Eles que se perdem em direcções descoordenadas, quando apontam para uma “Lazy Wonderland” em modo acústico que vai sendo avançado para um marasmo de vocalizações particularmente vazio. Esta faixa descreve em suma uma das aspirações do conjunto dos temas, entre (e citando o alinhamento) o “After the Disco” e os “Remains of Rock & Roll”.
Em suma, seria fabuloso se o pó dos anos 80 fosse limpo das teclas do sintetizador e se limpasse o vidro que nos impede de descortinar a verdadeira identidade dos Broken Bells. Até lá, continuam a ser o tipo dos The Shins e o Danger Mouse a fazer música juntos.