A mais de dois meses do fecho da temporada, as apostas para o título de disco do ano começam a acelerar. De divertida, a missão de preencher tops passou a angustiante. De lista em branco e recetiva, o top 10 fez-se elitista, pouco disponível para novidades e avesso a discussões.
Não é fácil merecer o carimbo de disco do ano na estreia e, por mim, até sou contra coroações precoces. Apresenta-te, conquista o teu espaço e depois, tiradas as dúvidas quanto à honestidade da arte, brilha. Estrelas de fast food dão asneira com demasiada frequência para que possamos baixar a guarda. Todos ouvimos o primeiro disco do Aloe Blacc. E o segundo?
Benjamin Booker, apresenta-se com um disco homónimo, (bem) acompanhado por Max Norton (bateria) e Alex Spoto (baixo). Com a legitimidade de quem nasce em Nova Orleães, negro e agarrado a uma guitarra, Booker tem, aos 25 anos, a escola feita. O som aparece de uma mistura original. E se o Chuck Berry tivesse ouvido os Sonic Youth? Lá por fora, por meios menores, as comparações têm sido, tão ou mais, lisonjeiras – Strokes (Old Hearts) diz o Guardian, Nirvana diz a Rolling Stone. Dirty, digo eu. Quanto ao Chuck Berry, a discussão é dispensável – basta ouvir a guitarra em «Have You Seen My Son».
A voz é áspera, sofrida como se quer nos blues, acelerada como no bom rock ‘n’ roll e capaz de gritar como exigiu a geração grunge. A guitarra, uma Epiphone Riviera, aparece bem puxada, com riffs de Chuck Berry e aceleração de Casablancas. Benjamin Booker apresenta um jogo forte. Um jogo a que nem falta a balada orelhuda, «Spoon Out My Eyeballs».
Na primeira visita a Inglaterra, Booker foi assobiado. Decidiu aproveitar o palco para chamar aos sagrados Oasis «a pior banda de sempre» e nem se coibiu de responder de dedo erguido aos pedidos para que tocasse a «Wonderwall». Mesmo assim, no final a crítica estava conquistada. E como será agora?
Não será o disco do ano, que essa brincadeira é para graúdos. Terá de lutar para entrar no top 10, mas um prémio o rapaz do mau feitio já ganhou. Se tocar bom blues é uma arte que poucos dominam, menos ainda alguma vez o conseguiram fazer com uma atitude punk, e Booker já ganhou o caneco para a mais promissora estreia de 2014. Não é o melhor disco do ano. Mas a ser verdade tudo o que promete na estreia, Booker pode ficar descansado. A sua vez chegará.