Quando comecei a ouvir um zunzum à volta deste nome, pensei que fosse mais uma cantautora a lançar o seu primeiro disco e a cair nas graças de uns quantos críticos. Por norma isto não acontece, há que ouvir antes de colocar rótulos, eu sei disso, mas foi o que aconteceu, e sou um tipo honesto. Fui ler um pouco mais sobre a senhora e as peças do puzzle começaram a juntar-se – então não é que andou por aí a tocar e cantar com o enorme Bonnie Prince Billy? Só isso já a fez subir bastante no ranking, e foi o toque necessário para me meter a ouvir o disco.
Mergulhemos então em Burn Your Fire for No Witness, que arranca com pezinhos de lã, «Unfucktheworld» é ritmo calminho que começa revelar onde vamos – ao encontro de uma alma a lidar com as agruras e incertezas de uma relação instável, aparentemente a caminhar para o fim, e a preparação necessária para lidar com esse destino. Logo de seguida, o ritmo acelera com o single «Forgiven/Forgotten», mas o espírito mantém-se, já que nos é dito de forma perfeitamente frontal «I don’t know anything / But I love you». Clássico «está tudo a desmoronar, mas vou agarrar-me ao amor», esse sentimento ambíguo e intemporal que governa os humanos desde sempre. Continua o álbum, continuam os lamentos, em «Hi-Five» a ideia é basicamente encontrar alguém que esteja na mesma situação para aparecer pelo menos um sentido de comunhão de carpideira. Contudo aqui é que o assunto inflecte. Até agora tínhamos tudo isto cantado com intensidade, a partir de «White Fire» o ritmo acalma, e ganha maior impacto a voz, esse instrumento encantador que é o grande responsável por sermos conquistados por este disco. Será heresia falar num Leonard Cohen? Numa Joni Mitchell? É que encontro aqui e ali resquícios deles, uma voz arranhada e inconstante que nos leva a crer na emoção que existe em cada palavra cantada.
Depois deste período inicial, o álbum estabiliza, ganhando com isso consistência, mas a cada audição descobre-se algo mais, o que torna o prazer de o ouvir ainda maior, pelo que não posso deixar de o recomendar a todos. Não querendo aqui meter clichés de melhores álbuns do ano e tal, vou mesmo só dizer isto: merece audições para além da primeira, será tempo bem passado pelos nossos ouvidos e consequentemente pela nossa cabeça.