Como prometido, Anderson .Paak, ao lado dos sempre fiéis Free Nationals, envia-nos para Ventura ainda antes de querermos sair de Oxnard, California.
O mundo pertence a Anderson .Paak – em 2019 é difícil encontrar alguém que não tenha sido atraído pelo magnetismo do californiano. Desde 2016, com o lançamento de Malibu, a banda-sonora definitiva para um verão repleto de paixão e desejo, que o músico tem vindo a colher aplausos de fãs e críticos pelo mundo fora. No início de 2018 anunciou dois discos, Oxnard, lançado em Novembro do ano passado produzido por Dr. Dre e Ventura, gravado com a sua banda de sempre, os Free Nationals.
Em contraste com o hip-hop mais intenso de Oxnard, Ventura leva-nos de volta para as praias ao final da tarde de Malibu. A combinação de piano, baixo e coros que abre “Come Home” torna este regresso evidente, numa canção que conta com um excelente verso do cada vez mais desaparecido Andre 3000. A lista de veteranos colaboradores inclui também, inacreditavelmente, Smokey Robinson, que empresta a sua voz de algodão a “Make It Better” e Nate Dogg que contribui para o doo-wop de “What Can We Do?”.
Quanto ao conteúdo lírico, existe agora uma maturidade que ultrapassa as simples histórias de engates dos discos anteriores. As temáticas podem ser as mesmas, mas a perspectiva é mais adulta e deslocada. Um excelente exemplo desse crescimento é “Make It Real” uma canção que lida com a divergência atual de um casal, em contraste com a intensidade da relação no passado. Mas nem tudo tem de ser sério e maduro. O humor que caracteriza as letras do músico ainda está presente, como em “Reachin’ 2 Much”, um funk demasiado pesado para se perder em questões sérias. O seu instrumental parece conter a totalidade dos anos setenta, desde as guitarras wah-wah à secção de metais.
Há algo que não encaixa neste puzzle ondulante, no entanto. O álbum tenta frequentemente emular Malibu mas falta-lhe uma certa coerência e atenção ao detalhe. Por muito boas que “King James” e a já supracitada “Reachin’ 2 Much” sejam, falta-lhes algo que as eleve aos picos icónicos do álbum mais velho. Ventura é Anderson .Paak a fazer aquilo que faz melhor: R&B veranil sem pretensões nem preocupações. É, simplesmente, um conjunto de músicas bem escritas, tocadas e produzidas. E não há mal nenhum nisso.